Sunday 15 April 2007

Try Walking In My Shoes


Tenta apenas.... Ser o que sou todos os dias, vazia de tudo e de todos e cada vez mais. Tenta olhar através de mim, ver a minha perspectiva do Mundo amplo e frio em que busco objectivos e saberes, sensações e razões para continuar a tentar perceber quem sou.

É uma disputa constante e revoltante aquela que travo comigo e com as minhas inseguranças. É como nadar sem sair do lugar. É andar como procurar orientação num sistema sem Norte. E eu procuro sempre por mim, a cada pestanejar.

E, quando dou por mim, a necessidade das coisas deixa de ter lugar na vastidão da minha apatia sensitiva. A frieza dos movimentos deixa-me inerte. O toque deixou de ser quente, esse esporádico estranho invasor de mim… o corpo ressente-se e assusta-se com essa possibilidade, a de deixar de reconhecer, esquecer.

As mudanças são tão súbitas; outras vão surgindo devagarinho, ganhando terreno neste campo de batalha ensanguentado de lágrimas que já surgem ao mínimo sinal da ausência, surgem ao olhar já sem qualquer noção. Já as sinto habituais e a sua frequência tornou-se a minha grande companhia.

Não me reconheço e já nem me esforço. Sinto-me apenas esgotada e cansativamente à espera que tudo se altere com a rotação natural do universo. Sinto-me apenas à espera que os constrangimentos enfraqueçam e a verdade escondida nas atitudes incompreensíveis apareça e me esclareça. O porquê da ausência. Grande papel o meu nesta trama tramada de viver.

E penso no que será afinal necessário para fazer despertar o que me parece não existir. E essa inexistência fere-me profundamente, a confirmação das dúvidas omnipresentes são o que mais temo. Estou num fosso repleto das emoções erradas. O que me é oferecido não é o que me foi prometido, não é o inerente à minha humilde existência. É o que ouço daquela voz do fundo das nossas mentes, é o que evito dizer alto com o receio do apercebimento.

E no final tudo se esquece. O que se denomina de desconhecimento ganha proporções estranhas à nossa existência. O que começa por ser uma insegurança, uma incompatibilidade, torna‑se um vício que se enraíza com o passar do tempo. E de repente instala-se como um hábito fortalecido pela rotina de ser simplesmente assim. Subitamente é já a realidade das coisas. É como se as imagens se tornassem turvas ao olhar ao longo dos tempos, ao ponto de um dia a sua nitidez ser uma mera recordação.

E no final tudo se esquece. Eu serei apenas mais uma imagem desfocada a juntar a tantas outras imagens já sem cor devido ao envelhecimento. A chama vai-se tornando cada vez mais fraca, diminuindo lentamente até à extinção. A memória deixa de fazer o registo de que eu existo e isso dificulta a minha árdua tarefa, a de conquistar o que mais me custa admitir e lembrar. E, como que incapaz de aprender, continuo tropeçando nos meus próprios passos.

E mesmo desconhecendo o momento crucial, o grande final, sinto-me há já muito tempo esquecida.

1 comment:

Alegre Casinha said...

a frase final está poderosa...