Wednesday 1 August 2007



Quem me dera sofrer da cegueira da alma, sentir a cada dia, a cada gesto e movimento, o gosto da novidade; deixar de perecer com a angústia que sinto todas as noites antes de dormir.

Ver tudo como uma tela em branco e ter a liberdade para desenhar, delicadamente, sensações mas daquelas que não magoam nem deixam saudade.

É o gosto pelo desconhecido, aperceber-me do que é novo e retirar dele a inocência da existência simples dos sentimentos, sem complicações; sentir o susto de cada descoberta apenas porque é novidade. Deve ser isso, tem de ser…

Não se sofre quando não se vê o que nos magoa; não se sofrem as perdas quando não se sabe o que se perde ou o que nos falta, o necessário; não se sofre com o não se conhece…

Se fosse cega na alma os sentimentos seriam como dádivas de alívio; sentir sem conhecer a origem dos sentimentos, apreciar apenas o acto de sentir que pode ser tão simples.

O medo desapareceria. O medo de não ser nada; o medo de ficar sem saída; a constante claustrofobia do Mundo em que o tempo parece sempre tão pouco.

Preferia não sentir a vida como se ela estivesse a chegar ao fim; e está, sempre, cada vez mais perto. Fosse eu cega da alma e não o sentiria, não estaria já com saudades de tudo o que não vou viver. Não sentiria já a saudade de mim.