Monday 23 April 2007

Desconhecimento de Ti


Do topo do mundo todos te observam procurando um sentimento em ti – pequeno, leve, surdo – e tantas vezes absurdo como uma imagem destorcida, meio sonho, que alimenta o mundo com esboços de ti; subindo ao cimo de um tempo inexistente em qualquer outro lugar que não seja o teu: aqui, em mim, no topo de tudo.

Perdi-me num pensamento pequeno mas diferente de todos os módulos de pensamentos elementares. Com um desenho que exprime um parque de diversões porque te conheço desde sempre, apenas um “pedaço de gente” que me enche de emoções e de alegria…

Espero um mundo para ti cheio de tudo. Tudo o que avisto pelo binóculo do mistério da vida e que me faz transbordar de sensações sem eu entender o porquê. Espero tudo, até onde a vista alcança e se perde na linha do horizonte e na névoa que inunda o olhar nas alturas.

Espero por ti a cada momento que passa, nem que seja por breves momentos, olhar de relance e avistar uma mera sombra desvanecida e fugidia, que se esconde como que um ser criminoso, alguém que destrói o sossego que há em apreciar as coisas simples da vida. Um abraço teu; um anseio diário reconhecer-te por entre uma multidão de rostos desconhecidos, frios e feios.

Preciso do talento e da grandeza para perceber que não sou nada. Situada no silêncio que amortece a minha dor, o ardor de viver sem amor, preciso de cores vivas tipo rosa‑choc para pintar o arco‑íris. Fazê-lo surgir com o jorrar de lágrimas salgadas que choro por dentro.

São precisos os sonhos, uma imensidão de desejos e caprichos que adocicam a boca e a curiosidade. Para chamar a atenção, atrair-te para a armadilha e fazer-te existir no que é a realidade séria demais. E assim mudar o rumo das coisas e enriquecer-me a mim em emoções e sensações que sem querer aprendi a desconhecer.

Sunday 15 April 2007

Try Walking In My Shoes


Tenta apenas.... Ser o que sou todos os dias, vazia de tudo e de todos e cada vez mais. Tenta olhar através de mim, ver a minha perspectiva do Mundo amplo e frio em que busco objectivos e saberes, sensações e razões para continuar a tentar perceber quem sou.

É uma disputa constante e revoltante aquela que travo comigo e com as minhas inseguranças. É como nadar sem sair do lugar. É andar como procurar orientação num sistema sem Norte. E eu procuro sempre por mim, a cada pestanejar.

E, quando dou por mim, a necessidade das coisas deixa de ter lugar na vastidão da minha apatia sensitiva. A frieza dos movimentos deixa-me inerte. O toque deixou de ser quente, esse esporádico estranho invasor de mim… o corpo ressente-se e assusta-se com essa possibilidade, a de deixar de reconhecer, esquecer.

As mudanças são tão súbitas; outras vão surgindo devagarinho, ganhando terreno neste campo de batalha ensanguentado de lágrimas que já surgem ao mínimo sinal da ausência, surgem ao olhar já sem qualquer noção. Já as sinto habituais e a sua frequência tornou-se a minha grande companhia.

Não me reconheço e já nem me esforço. Sinto-me apenas esgotada e cansativamente à espera que tudo se altere com a rotação natural do universo. Sinto-me apenas à espera que os constrangimentos enfraqueçam e a verdade escondida nas atitudes incompreensíveis apareça e me esclareça. O porquê da ausência. Grande papel o meu nesta trama tramada de viver.

E penso no que será afinal necessário para fazer despertar o que me parece não existir. E essa inexistência fere-me profundamente, a confirmação das dúvidas omnipresentes são o que mais temo. Estou num fosso repleto das emoções erradas. O que me é oferecido não é o que me foi prometido, não é o inerente à minha humilde existência. É o que ouço daquela voz do fundo das nossas mentes, é o que evito dizer alto com o receio do apercebimento.

E no final tudo se esquece. O que se denomina de desconhecimento ganha proporções estranhas à nossa existência. O que começa por ser uma insegurança, uma incompatibilidade, torna‑se um vício que se enraíza com o passar do tempo. E de repente instala-se como um hábito fortalecido pela rotina de ser simplesmente assim. Subitamente é já a realidade das coisas. É como se as imagens se tornassem turvas ao olhar ao longo dos tempos, ao ponto de um dia a sua nitidez ser uma mera recordação.

E no final tudo se esquece. Eu serei apenas mais uma imagem desfocada a juntar a tantas outras imagens já sem cor devido ao envelhecimento. A chama vai-se tornando cada vez mais fraca, diminuindo lentamente até à extinção. A memória deixa de fazer o registo de que eu existo e isso dificulta a minha árdua tarefa, a de conquistar o que mais me custa admitir e lembrar. E, como que incapaz de aprender, continuo tropeçando nos meus próprios passos.

E mesmo desconhecendo o momento crucial, o grande final, sinto-me há já muito tempo esquecida.

Sunday 8 April 2007


Não há ninguém aqui hoje porque alguém levou a luz. Nada me enche o coração… não penses sequer que eu poderia explicar!

Não suporto a dor de perder algo tão à parte de mim embora, na realidade, tu, dificilmente estivesses no meu coração; tu és o meu coração; tu és tudo, tudo…

Em poucas palavras, um sopro dos tempos de Verão transforma-se nas piores chuvas de Inverno e em tão pouco tempo toda a minha esperança se desvaneceu. E será que a recupero algum dia, será ela a mesma? Há-de surgir disfarçada de alguma coisa ou de coisa nenhuma…

Tudo o que sempre quis foi ver o teu rosto, presenciar um leve sorriso de mim, tão pequena perto de ti e perto de tudo e dar-te a saber. E dar-te a saber.


Mas a realidade das coisas não deixa de ser como uma mancha que escorre e esborrata e muda a cada minuto, a cada olhar nosso atencioso e amadurecido que não volta a acontecer. Como custa ter de te perder, de me perder.

Tu eras tudo, tudo. Fiz de tudo para te dar vida em mim, fiz tudo o que podia. Teria feito qualquer coisa para que continuasses a viver em mim. Pedia por favor num sussurro de dor para que nada deixasse de ser, para não te largar.

Lá fora, no escuro, o espírito perde-se em busca de um lar; estás perdido no nevoeiro espesso que cobre o caminho como um manto suave de nada. Não tenhas medo, eu penso em ti, não estás só. Algo se partiu em mim quando foste sem data de regresso, algo impossível de concertar como se me tivesse perdido a mim própria.

Um dia, de alguma forma, quando o tempo for o certo, poderá um anjo sorrir sobre mim e devolver-te a vida perdida. Para te dar vida. Eu daria tudo para que continuasses vivo em mim, eu daria tudo para continuar viva por dentro, passar por tudo livre de apatia e dormência. Será isto aquilo a que se chama demência do espírito e da alma que se perde em tão pouco, não se recupera por nada.

Pensamentos soltos como devaneios de um ser perturbado com a ausência de tudo, habituada ao vazio que é ser-se só no mundo. Ser irreconhecível, sem cheiro e sem voz, ser invisível no meio de tudo como se não existisse. O vazio faz-me perder a noção do tempo, faz-me sentir inválida perante as sensações e os sentimentos que não conseguem existir ou perdurar… preciso que me ensinem novamente a amar.

Tu eras tudo, tudo. Teria feito o que fosse preciso para te manter vivo e sobreviver sem pedir nada. E bastava um olhar de aceitação, sentir-me apreciada; bastava uma aprovação e sentir-me desejada. Teria feito o que fosse preciso...

Numb