Friday 23 March 2007



Julgo ter ficado sem opções…


Nem o que pensar surge com clareza! A incerteza dos motivos que nos levam a fazer as coisas, as constantes promessas que me fazem ser descrente da boa vontade e da sinceridade das palavras.

“Vou ligar”, depois não ligas… à segunda volta, “depois eu ligo” e não ligas de novo… E já nem espero que o faças! Só espero… Nem sei porquê. Na expectativa de que possa ser desta vez. E para quê? No fim surge sempre a mesma confirmação, de que não vens, não hás-de vir, em busca de mim…

Passas por mim num corredor e não me falas. Será que já não me vês? É possível que a despreocupação seja tal que me torne pra ti, subitamente, apenas mais um dos corpos incógnitos que se passeiam e por ali passam, numa verdadeira correria, azáfama de vida.

Eu sei que estou diferente e aceito a dificuldade em me reconhecer no meio de tantas coisas novas que tenho em mim mas o esquecimento… A minha essência de viver, o que nos aproximou, o que despertou em ti a vontade de mim, apenas isso, julgo ser difícil não reconhecer.

E é difícil quando nem me olhas, quando a minha presença deixa de ser importante ao ponto de deixar de despertar em ti a curiosidade natural de quem se cruza algures na vida, aquele olhar que deitamos ao dono do vulto que repentinamente entra no nosso campo de visão, que surge diante dos nossos olhos postos no chão ou num monte de papéis, em qualquer coisa que nos exija a concentração quando deambulamos, atrapalhados, pelo corredor.

Julgo ter ficado sem opções…

Pensei que houvesse, no mínimo, a vontade de perceber ou esclarecer alguma coisa. Afinal… eu sinto essa necessidade, eu preciso de saber tudo, ao mínimo pormenor. Não suporto já o adiamento do momento reservado para nós. Angustia-me a espera eterna por algo que não vai surgir.

Somos… fomos amigos; importamo-nos… importávamo-nos um com o outro… Preciso saber, sentir de novo a sensação de estar perto de ti para, noutra tentativa vã, tentar perceber o que é que me puxa, o que é que me faz tremer cada vez que sorris, o que me desconforta no teu olhar. Seguir‑te-ia para onde quer que fosses, não percebes?! E sem porquês, sem inconvenientes, sem entraves ao rumo a seguir, apenas com o que sinto por ti!

Mas não posso continuar assim. Subitamente, desisto! A distância entre nós é, contudo, enganadora. Induz-me no pensamento de que aos poucos tudo vai morrendo, perdendo a importância de ser, perdendo a fonte de alimentação e sustento. Mas nada morre, nada se desvanece com a ausência, está tudo apenas adormecido.

E basta-me um vislumbre de ti para que tudo ganhe novas proporções, gigantescas, assustadoras. Mexes comigo de uma forma estranhamente agradável. Perturbas-me, desconcentras-me do meu objectivo de te deixar ir com tudo o resto que por mim passa. Mas não consigo não te reter. Pareces entranhado em mim, tal cheiro a pele, inesquecível. Assemelhas-te a um fobia que não se consegue combater e toma controle de nós.

É frustrante perceber que nada do que se constrói é sólido; é frustrante perceber que os investimentos no afecto e na amizade são feitos a fundo perdido… Palavras, palavras ditas em vão ou com significado, conversas e mais diálogos…. Perca de tempo, a minha conclusão. O que resta afinal? Um sabor amargo de quem quer perpetuar o que pensou ter conquistado e percebe, finalmente, que é impossível conquistar. Não existe, não é real!

E custa ver que isto faz parte da minha vida. À minha volta tudo permanece, menos comigo…. Tamanha frustração! Tamanha a minha solidão…

Ouvi uma vez dizer: “eis que é chegada a hora de reequacionar a minha solidão!”; palavras tão fortes, sentimentos abruptos irrompidos com a chegada da perda eterna! Algo que no momento me capturou tal âncora que nos puxa para o fundo do mar. A sensação de pânico que nos invade ao perceber que nos falta o ar, que nos vamos afogar na imensidão do mar. É o sonho que me apoquenta as noites mais conturbadas. Essas palavras proferidas na dor inundaram a minha alma, senti-me asfixiar só de pensar que talvez tenha chagado o meu momento, aquele em que começo a equacioná-la…. A solidão, o vazio e mim! O vazio que sinto quando penso ti! A saudade do que não tive contigo.

O sorriso vai morrendo embora transpareça aos outros; tudo em nós vai morrendo um pouco a cada dia… a cada momento em que se vê o afastamento do resto do mundo, das pessoas, do que julgamos nosso. E o afastamento de ti…

Tu não sabes mas há alguém a sofrer, magoado por reter tudo lá dentro, por não se livrar de todo o seu mal, por não conseguir fazê-lo. Mas no fundo, a verdade é indolor, basta deixar o amor transparecer e tudo desaparece. E eu estou condenada. Porque me sinto perdida no meio da tempestade que tu criaste. E não te vejo em lugar algum; não vieste em meu socorro!

Julgo ter ficado sem opções…

2 comments:

lady.bug said...

Qual foi a opção que tomaste que te deixou sem opções?

Is This Me? said...

Conhecer o que não posso conhecer, ter o que não pode ser meu, sentir o que não me destinado..... The void that comes with feeling in love....