Wednesday 28 March 2007


A confusão
A confusão da alma que domina por completo o corpo sem se aperceber que existe um porquê que nos conduz, solitários, pelo silêncio e através de um campo de coisa nenhuma, onde nasce a tristeza, o medo, a loucura, o desejo, a incerteza, o grito mudo e a mediocridade espiritual que termina quando a confusão se instala por entre as linhas estranhas e irregulares de um pensamento sem lógica, embebido em poucas cores vibrantes, enganando um cego que não quer ver… eu próprio, em mim e principalmente sem mim, percorrendo-me a pouco e pouco numa sinfónica e desafinada confusão de alma…


Escreve ele, o meu Norte, numa letra de criança e algo perturbadora, significado do quão perdido ele está por dentro. Perdeu-se a minha criança, o meu guia, levou-me com ele na imensidão dos caminhos conturbados porque passa e tem passado ao longo de todo este tempo…

É um desassossego, um sufoco procurar sem encontrar o que conhecemos a vida inteira. Ele está lá e não o vejo de tão embrenhado que está na vastidão do seu sofrimento, tão único e egoísta; não me deixa partilhar com ele o fardo da genialidade que tanto o confunde e o afoga em mágoas antigas, nas palavras que ficaram por dizer no momento certo. Di-las alto e bom som, ouve-as em eco como se as dissesses em tempo real.

A áurea sensorial que nos une faz-me sentir na pele a sua inquietude artística que parece não ter fim. Há tanto para dizer, tanto para expressar e parece tudo inatingível, insaciante. O amanhã também existe e não tens de viver tudo num único minuto.

Pensa em mim, pensa no amanhã, pensa no futuro que vamos ter em simultâneo, pensa na velhice que prometemos um ao outro sempre com a união que é só nossa. Estás a deitar tudo a perder. Estás a deixar que algo perturbe o que tenho de certo contigo. Estás a permitir que algo interfira no curso que está estipulado. Eu não sei lidar com as mudanças. Eu não sei lidar com a tua mudança.

A minha mente afasta-se de mim, foge ao largo e não sei mais o que seguir. O meu Norte perdeu-se, perdeu-se na rota dos ventos. Não tenho mais sonhos a seguir. Os teus eram os meus. A memória divide-se e nem tu sabes já o que sonhavas.

Tu eras o Norte, eu o Sul, estávamos completos de coisas de que nem precisávamos falar. O sentimento escondido de sermos unos; chego a pensar se não seria somente meu esse sentimento que dava razão de ser ao imaginável. Não quero que seja.

É como que iniciar uma viajem sem retorno, daquelas que fazemos sem nunca sair do lugar, passando por lugares a que sabes que nunca vais conseguir regressar. Mas não podes ter-te perdido assim, eu não deixo, não admito… não posso acreditar que tudo era falso porque não era. Era tudo tão palpável ao ponto de cravar na pele a arte que te define. Tu estavas lá e sempre estiveste. E estás lá, eu só não te vejo, não te consigo encontrar.

Segue tu agora rumo ao Sul, ao umbigo que nos gerou; segue-me porque o que se passa é mágico, sempre foi, e há mais além do sonho. Tens de te obrigar a abandonar a toca fria e imunda onde te refugias tal animal indomesticável. Eu tenho de ser alguém. Segue‑me ao sítio que reclamo como meu, eu afago-te em afecto e compreensão e sem críticas. É tudo incondicional ou és tu o cego que não quer ver?

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